de milagre
A recente descoberta da bebé raptada numa maternidade logo após o parto, vem de novo levantar a polémica sobre a competência e a jurisdição entre Deus e as entidades de investigação criminal. A mãe da criancinha e a circundante ajuizada vizinhança rapidamente se apressou a denominar de milagre o reaparecimento da bebé, entregue durante um ano aos bons cuidados da sua raptora. Logo à priori não me parece que o facto da bebé ter aparecido ao fim daquele tempo seja motivo para se poder alegar a condição de milagre. Estou a lembrar-me daquela pequena austríaca loira que só passados mais de dez anos reapareceu sem que ninguém tivesse alegado qualquer intervenção divina no caso. A própria raptada explicou tudo tintim por tintim o que lhe tinha acontecido, o Sindroma de Estocolmo, etc, etc... Qualquer milagre corresponderá a quaisquer circunstâncias que a ciência, síndromes e a lógica humana não consigam explicar, o que claramente não se sucedeu com a jovem loira e muito menos se sucede no caso da bebé. Se a criança desaparecida há um ano aparecesse agora com o corpo da Anastacia, isso sim seria milagre sem a mais pequena dúvida. No entanto, estão já programados vários pagamentos de promessas, longas caminhadas a lugares inóspitos com santinhas lá no alto, para lhes agradecer a intercedência junto da mais alta instância, e deve sobrar também algum para o senhor prior lá da paróquia. Para esta gente, foi Deus quem salvou a bebé, Deus, o herói da fita. O que para mim é escandaloso. Pelo que me foi dado a conhecer pela comunicação social, facilmente se depreende que Ele não teve nada a ver com o assunto. É de todo injusto estar-se a atribuir mérito a Deus quando afinal foi até fruto da sua negligência e quiçá incompetência, que se verificou o desaparecimento, se viu aquela prestimosa mãe privada da sua filha. Deus não assumiu com aquele recém nascido o papel protector que lhe competia, foi desplicente na sua função de vigilância, e, pior, deixou que o Diabo dê-se a ideia à raptora. Não tendo Ele nada a ver com o aparecimento, também não me parece que haja neste caso qualquer mérito das forças policiais e de investigação criminal. É sabido que andavam ás aranhas, as pistas eram poucas ou nulas por força do bem orquestrado rapto. O que permitiu realmente o aparecimento da bebé desaparecida foram de facto os bufos, a família do companheiro da raptora que deu com a língua nos dentes. Mas desenganem-se estes senhores se julgam que por isso serão promovidos ou recompensados com alguma saca de batatas ou quaisquer outra oferenda que, convenhamos, era de toda a justiça lhes fosse ofertada. Não senhor, os méritos do desvendar deste caso irão todinhos para Deus Nosso Senhor que naturalmente se remeterá a um silêncio de falsa modéstia de como quem diz “ora, ora, não foi nada, isto foi uma coisita simples”. Por isso impunha-se a formação de uma comissão de inquérito que averiguasse estes casos de forma isenta e independente, para que o mérito fosse dado a quem realmente de direito. Importa de uma vez por todas delimitar as fronteiras, onde começa e acaba um bem sucedido trabalho de investigação policial, uma bem coordenada operação de busca e salvamento, quando acontece um inusitado milagre, ou simplesmente se admitir que tudo se resolveu graças à acção de um bufo, de alguém que a dado momento se chibou! Já era altura de se seguirem as boas práticas lá de fora, onde se valoriza o papel de bufo (veja-se as recompensas que o FBI dá a quem denuncie o paradeiro de perigosos malfeitores). Já era tempo de por cá se requalificar a imagem do bufo como peça fundamental na resolução de grandes mistérios. A história da humanidade tem-se desenvolvido muito por acção dos bufos. Veja-se a captura de Saddam Hussein. Milagre duma joint-venture de Deus e Alá? Mérito dos marines ? Não, um bufo que se chibou! Deve ter sido como se lhe tivesse saído os euromilhões!
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